Vagarosamente,
pela longa estrada, em uma tediosa tarde de outono repleta de flores amarelas,
a luxuosa carruagem em forma de abóbora andava. Enquanto no seu
interior, eu me preparava para roubar numerosos beijos de minha bela esposa,
quando de repente uma enorme força odiosa nos atingiu violentamente. Era uma
emboscada. Fomos jogados no pequeno penhasco enquanto a carruagem caía e
tocava violentamente o solo. Os nossos cavaleiros se misturavam com o sangue da
cruel batalha contra os terríveis e perversos camponeses.
Apenas
enquanto, os leves arranhões pigmentavam nossa pele com hematomas e com a
violência do desespero. Nós saímos dos destroços de nossa carruagem e fugimos,
absorvidos pelo medo. Nós fugimos durante várias horas pela estranha
floresta. Tolhidos, pela sede, pelas lágrimas e pela ilogicidade do cruel e
frágil destino, até que encontramos o pequeno Riacho do leste.
Ali,
enquanto eu alimentava a sede de minha alma, no frágil e abençoado rio. Minha
bela esposa reclamava tragicamente dos estragos que o cruel acidente havia
feito em seu tão belo vestido e em seus sapatinhos de cristais.
Cegamente,
eu a olhava de forma amorosa com a fria e ilusória esperança de que ela mudaria
suas patéticas atitudes, quando de repente uma tocha vermelha atingiu a linha
do horizonte. Era a prenuncia de um novo ataque.
Desesperadamente,
com a quase certeza de que seria o nosso fim, eu a abracei para que ela não
tivesse medo da morte, enquanto eu escondia os meus próprios medos. Até que,
repentinamente nossos cavaleiros nos encontraram e nos levaram rapidamente para
a comodidade de um lugar seguro.
Duas
semanas depois, na fria masmorra do castelo, através da confissão de um
Marceneiro camponês que fora capturado no horrível ataque e cruelmente
interrogado por meio do chicote e do sangue O Cavaleiro real conseguira
arrancar brutalmente a confissão desse pobre Marceneiro.
Deste
modo, nesse mesmo dia, na sala do palácio real, a bela princesa, A mulher do
sapatinho de cristal, cujo nome era Cinderella, por meio da conversa com seu
nobre Cavaleiro real, descobriu que a causa de seus inúmeros caprichos que a
faziam gastar absurdamente boa parte do dinheiro real em lindos vestidos, era o
que havia provocado a revolta de seus fiéis camponeses.
Lamentavelmente,
a bela jovem movida pela cegueira de seu enorme desejo pelo ouro e pelo luxo de
suas inúmeras roupas. Rejeitara seu passado, sua racionalidade e todo bondade
que havia dentro de si. Apenas em nome, apenas em nome de seus egoísmos.
Ela
se enchera de um lindo sorriso, se atirara em sua confortável poltrona de ouro
e tratara tudo aquilo com uma ironia utópica, sem pensar nas horríveis
consequências que suas atitudes poderiam trazer para si, ela dispensara de seu
aposento, o seu Cavaleiro real, com repugnância e com frieza. Ela solidificara
sua estúpida escolha nessa simples atitude.
Mais
tarde, ao cair da noite, enquanto comtemplava seus inúmeros sapatos no luxuoso
armário de seu quarto, Cinderella fora repentinamente surpreendida. Era seu
apaixonado marido que a surpreendera com um enorme beijo em seu lindo pescoço e
a levara cuidadosamente por entre os seus braços para o confortável leito de
sua cama, para que sua esposa sentisse a completude de seu amor, de seu
carinho, e de seu enorme desejo.
Na
manhã seguinte, o apaixonado marido acordou com a imensa vontade de amar sua
esposa por entre os seus braços, mas a bela jovem havia desaparecido. Então,
completamente desesperado com lágrimas nos olhos ele pulou de sua cama e partiu
em busca de sua amada por entre os corredores do castelo, até que ele chegou a
sala do palácio real.
Ali,
ele encontrou sua mulher. Contudo, percebeu, tristemente, que sua esposa havia trocado
o calor dos seus braços pelo luxo e pelo alegre e triste egoísmo de barganhar,
com o senhor Mercenas, o mercenário da região, as joias e os mais variáveis acessórios
luxuosos que combinassem com seus lindos vestidos.
Naquele
momento, o jovem príncipe se sentira totalmente rejeitado e percebera a total
falta de sentimentalidade de sua esposa. E, assim ele andara tristemente de
volta para o seus aposentos com a triste e cruel certeza de que sua esposa não
o amava.
Consequentemente,
para esquecer suas mágoas, e a triste dor que habitava em seus olhos, o
príncipe decidira se embriagar com o vinho. Dessa forma, ele tomara para si uma
das garrafas da sala de jantar real e partira novamente para o seu aposento
real.
Muitas
horas depois, quando Cinderella voltou para o quarto e encontrou seu marido
completamente embriagado e adormecido pela garrava de vinho que ele ainda
segurava em sua mão. Ela sentira uma certa repugnância e partira em direção a
varanda.
Ali,
enquanto, ela apreciava o lindo colar que estava em seu belo pescoço, ela
comtemplara também o lindo horizonte e o enorme penhasco que envolvia o quadro
de sua paisagem, até que de repente um enorme barulho chegou ao seus ouvidos.
Não
houve tempo, era o seu fim. Quando ela olhou para trás ela se deparou com uma enorme
estaca de madeira. Era o Marceneiro Camponês que a segurava para que ela pagasse
com a sua vida e com o sangue a dor de todo o mal que ela havia feito.
Ela
pensara em rogar arrependimentos para aquele camponês, mas já era tarde. Então,
ela chorara desesperadamente, enquanto a estaca de madeira se aproximava de seu
peito, até que repentinamente seu marido apareceu. Ele saíra correndo, arrancara
à estaca, agarrara o malvado Marceneiro camponês e para que o pior não acontece
com sua amada esposa. Em um ato heroico ele se jogara da varanda com o
Marceneiro camponês no frio e profundo penhasco do castelo.
Naquele
momento, Cinderella percebera o real valor dos sentimentos de seu marido.
Então, completamente envolvida pelo arrependimento, pelas lágrimas e pela dor
de todas as suas ações passadas, em um gesto de amor, de carinho e de
arrependimento pelo seu tão amado esposo ela enfiara com toda a força a estaca
do Marceneiro camponês em seu peito, para que dessa forma o seu coração jamais
voltasse a se enganar com o luxo, com o dinheiro, com o egoísmo e com a vaidade
humana.
Escrito por: Denise Mendes