domingo, 17 de abril de 2011

A velha porta de madeira

As linhas a desenhavam levemente, a brisa era gelada, os rostos eram calmos e mansos, o céu se borrava de laranja, as árvores se balançavam, as flores exalavam perfume,os passarinhos cantavam, as casas cheiravam a cereja,a linha do varal parecia barbante, a nuvem parecia algodão, os sussurros tinham gosto de maçã e por de trás das linhas marrons, da alegria que brotava nas gramas, das folhas que se jogavam sobre vento e muito além das estradas feitas de massinha e da casa cor de areia. Existia uma porta.

Além da paisagem, nas calçadas as crianças brincavam de roda, os adultos passavam apressados, os casais andavam de mãos dadas, o pão esfriava na janela, o gato subia em cima do telhado, uma menina regava uma flor e um homem tocava violão, um menino andava de bicicleta, a borboleta pousava na sacada, uma aranha fazia uma teia na parede, a terra cheirava a café, os telhados cheiravam a biscoito e a porta cheirava a silêncio e lágrima molhada.
Era primavera o mundo sorria mais colorido, as flores brotavam mais facilmente e a vida era sempre pintada de uma nova cor, enquanto que uma criança riscava o chão de giz, um velhinho andava de bengala, um cachorro corria sem coleira, uma mulher gritava ruídos, um homem vendia bombom, uma senhora pisava no chiclete, uma maçã caia da árvore, o chão era macio e terno e os pensamentos daquela porta eram vagos tristes e tudo não se tratava de liberdade. Quero dizer ela nem sonhava o que esse nome significava.

Os seus olhos sempre estavam distraídos. O mundo lhe fascinava e mesmo que dentro de seu peito uma dor e um sentimento se faziam grande ela não podia deixar de lado o jeito tão curioso que o novo vibrava dentro de si , porque ao redor de tudo as coisas nunca eram as mesmas, ainda que ela assim o fosse.

Por isso que quando um muro caia, quando uma mulher carregava um bebê, quando uma pessoa passava sorrindo, quando uma criança corria descalça. Ela sabia que era muito mais do que seus próprios sentimentos, pois se uma folha tocasse em seu semblante ela não pensava na sua textura, no seu cheiro, na sua forma ou na sua cor, ou no quanto aquilo lhe agradava, porque ela pensava na história que a folha trazia e que jamais seria contada, e ainda que como ninguém ela soubesse descrever o pequeno ser que diante de si se encontrava, ela apenas aguardava e ficava no silêncio admirando aquilo que não era.

Até que um dia algo aconteceu. Uma mão a tocou de uma forma que ela jamais havia imaginado. E aquela mão repartiu a sua história, os seus medos, o seu sentimento, a sua vida e tudo estava realmente tão perfeito, perfeito. Quando de repente a velha porta de madeira acordou e viu que aquilo jamais havia acontecido.

Fim.
Escrito por: Denise Mendes.

6 comentários:

  1. Portas abertas para volta! Belo texto, nunca mais te vi "aos gritos"? Apareça, és sempre bem vinda, abraços!
    http://gritosatrasdomuro.blogspot.com/

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  2. Sempre há uma porta pra qualquer situação.
    Belo texto, parabéns. Gostei muito do seu blog.
    Abraços!

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  3. Obrigada por seguir meu blog!
    Igualmente adorei o seu blog tb!
    E adorei a sua descrição sobre o que é escrever...
    Estou te seguindo!!

    bjusss

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  4. Que porta-mistério mais intrigante! Queria saber para onde ela se abria, qual mundo ela escondia atras destes olhos disperssos.

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  5. Olá, visitei o seu blog e gostei muito, já estou seguindo. Se puder siga o meu, é sobre meus trabalhos no teatro.

    http://thieresduarteoficial.blogspot.com

    Desde já obrigado pela atenção!

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  6. Gostei muito desse texto Denise! Ele é muito interessante e inesperado!
    Beijo

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