quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

A bailarina e o casarão



Eu vou tentar lhe explicar como me apaixonei por ela. Mas, vou logo dizendo que não sou um bom contador de histórias.   Também não gosto de ser interrompido. Então, se de alguma maneira você veio até aqui. Não vá embora. Fique e escute.
Tudo aconteceu no dia 31 de dezembro. A minha família estava se arrumando para ir à praia. Os meus amigos brincavam de futebol em frente a minha casa. A televisão passava um monte de filmes repetidos. Enquanto, eu estava ali me preparando para brigar com uns moleques de rua.
Eu tinha 12 anos e era muito pequeno. Mas não gostava de desaforo e não aguentava mais ouvir aqueles moleques tirando sarro com meu tamanho. Eles eram maiores que eu. Estavam de costas conversando perto de um enorme casarão, enquanto eu estava do outro lado da rua, com muita raiva, esperando o momento certo para atravessar a pista e esmurrar a cara de cada um quando repentinamente um carro apareceu.
Dentro dele saiu uma menina vestida com uma roupa de bailarina. Ela tinha minha idade. Apesar de seu semblante triste, ela tinha um rosto muito bonito e também possuía um corpo muito atraente.
Os moleques da rua quando a viram se aproximaram da menina e tentaram logo passar a mão na coxa dela, mas a menina se esquivou e rapidamente chamou seu segurança. O cara além de ágil era um gigante musculoso.  Ele saiu correndo do carro preto e ao ver a cara de safado deles. Encurralou os moleques no fim da rua e deu uma boa surra em cada um.
Enquanto, tudo isso acontecia eu e a bailarina, nos olhamos e começamos a rir da situação. E daquele riso nasceu o desejo de conhecê-la e de tê-la perto de mim. Eu aproveitei o ensejo, atravessei a rua e peguei seu número.
Então, depois daquele episódio, nós começamos a trocar mensagens de celular. Nós ficamos muito próximos, porém a menina raramente aparecia na rua.
  Eu achava aquilo estranho, mas ela  dizia que não tinha permissão de seus pais para sair de casa. E, quando ela aparecia era apenas na véspera do ano novo para ver os fogos de artifício na rua. Contudo, sempre que a via ela estava cercada de seguranças. De modo, que eu nunca poderia me aproximar dela ou tentar qualquer tipo de relacionamento.
Desde lá, cerca de sete anos se passaram, nós ainda mantínhamos contato, mas  muita coisa tinha mudado. Meu tamanho e minha aparência haviam mudado bastante.  Agora eu era um rapaz musculoso.  Eu já tinha namorado inúmeras meninas.  Mas, aquele desejo antigo, de ter aquela bonita bailarina ainda permanecia em mim.
Por isso, todos os anos na véspera de ano novo, enquanto as pessoas se preparam para festejar e para sair com os amigos, eu me arrumava e ficava na mesma calçada que a conheci, esperando pacientemente que ela saísse e que um dia ela se libertasse de seus seguranças e pudesse estar perto de mim.
Depois de muito tempo, cansado de esperar que essa oportunidade surgisse. Eu escalei o muro de sua casa. E invadi seu quarto. Determinado a ter um momento perto dela. Quando a vi. A encontrei encharcada de lágrimas e com seus pés encharcados de sangue. Os seguranças a haviam amarrado com uma apertada corrente de ferro no pé de sua cama de maneira que seus pés sangravam continuamente.
A pobre bailarina não aguentou. Ela me contou a verdade. Ela era órfã, não tinha para onde ir e havia sido sequestrada do seu orfanato por aqueles homens. Ela nunca tentou fugir por não ter uma família.
Então, durante esses anos eles a forçaram a fazer, todos os dias, inúmeras apresentações de balé para os mafiosos da cidade. Apesar disso, eles sempre a trataram bem. Só que agora com a crise, eles estavam com problemas financeiros e as apresentações tinham diminuído por isso eles estavam fazendo um leilão para vender a primeira vez da bailarina e recuperar o dinheiro perdido.
Desconsolada, a bailarina implorou que eu lhe ajudasse. Eu tentei soltar sua corrente, mas foi inútil. A corrente estava presa por inúmeros cadeados.
A pobre menina começou a se desesperar. Como ela estava ficando muito fraca porque seus pés estavam cheio de sangue. Eu a acalmei e desci rapidamente da janela e fui em busca de socorro.
Eu liguei para polícia e para ambulância. Os sequestradores por ver a bailarina tão quieta e calada.  Começaram a se preocupar e temeram que o pior pudesse acontecer e resolveram fugir com a menina.
Contudo, quando estavam saindo do casarão. A polícia chegou. Enraivecidos para tentar fugir os sequestradores deram dois tiros nas pernas da bailarina. Mas, foi em vão, eles acabaram sendo presos.
Poucos instantes depois a ambulância chegou.
A bailarina ficou durantes quatro meses internada no hospital. Ela quase morreu, mas ela conseguiu se recuperar sem sequelas.
Depois desse episódio ela ficou sem moradia. Eu ofereci minha casa. Depois de um ano  ela se apaixonou por mim e nós começamos a namorar.
20 anos depois, nós ainda continuamos juntos. Hoje juntos nós nos amamos e estamos casados e comemoramos mais um ano novo com  a certeza de que estamos seguros e de que ela sempre será a minha bailarina.

3 comentários: