sábado, 5 de abril de 2014

A Mulher do Sapatinho de Cristal


Vagarosamente, pela longa estrada, em uma tediosa tarde de outono repleta de flores amarelas, a luxuosa carruagem em forma de abóbora andava. Enquanto no seu interior, eu me preparava para roubar numerosos beijos de minha bela esposa, quando de repente uma enorme força odiosa nos atingiu violentamente. Era uma emboscada. Fomos jogados no pequeno penhasco enquanto a carruagem caía e tocava violentamente o solo. Os nossos cavaleiros se misturavam com o sangue da cruel batalha contra os terríveis e perversos camponeses.

Apenas enquanto, os leves arranhões pigmentavam nossa pele com hematomas e com a violência do desespero. Nós saímos dos destroços de nossa carruagem e fugimos, absorvidos pelo medo. Nós fugimos durante várias horas pela estranha floresta. Tolhidos, pela sede, pelas lágrimas e pela ilogicidade do cruel e frágil destino, até que encontramos o pequeno Riacho do leste.

Ali, enquanto eu alimentava a sede de minha alma, no frágil e abençoado rio. Minha bela esposa reclamava tragicamente dos estragos que o cruel acidente havia feito em seu tão belo vestido e em seus sapatinhos de cristais.

Cegamente, eu a olhava de forma amorosa com a fria e ilusória esperança de que ela mudaria suas patéticas atitudes, quando de repente uma tocha vermelha atingiu a linha do horizonte. Era a prenuncia de um novo ataque.

Desesperadamente, com a quase certeza de que seria o nosso fim, eu a abracei para que ela não tivesse medo da morte, enquanto eu escondia os meus próprios medos. Até que, repentinamente nossos cavaleiros nos encontraram e nos levaram rapidamente para a comodidade de um lugar seguro.

Duas semanas depois, na fria masmorra do castelo, através da confissão de um Marceneiro camponês que fora capturado no horrível ataque e cruelmente interrogado por meio do chicote e do sangue O Cavaleiro real conseguira arrancar brutalmente a confissão desse pobre Marceneiro.

Deste modo, nesse mesmo dia, na sala do palácio real, a bela princesa, A mulher do sapatinho de cristal, cujo nome era Cinderella, por meio da conversa com seu nobre Cavaleiro real, descobriu que a causa de seus inúmeros caprichos que a faziam gastar absurdamente boa parte do dinheiro real em lindos vestidos, era o que havia provocado a revolta de seus fiéis camponeses.

Lamentavelmente, a bela jovem movida pela cegueira de seu enorme desejo pelo ouro e pelo luxo de suas inúmeras roupas. Rejeitara seu passado, sua racionalidade e todo bondade que havia dentro de si. Apenas em nome, apenas em nome de seus egoísmos.

Ela se enchera de um lindo sorriso, se atirara em sua confortável poltrona de ouro e tratara tudo aquilo com uma ironia utópica, sem pensar nas horríveis consequências que suas atitudes poderiam trazer para si, ela dispensara de seu aposento, o seu Cavaleiro real, com repugnância e com frieza. Ela solidificara sua estúpida escolha nessa simples atitude.

Mais tarde, ao cair da noite, enquanto comtemplava seus inúmeros sapatos no luxuoso armário de seu quarto, Cinderella fora repentinamente surpreendida. Era seu apaixonado marido que a surpreendera com um enorme beijo em seu lindo pescoço e a levara cuidadosamente por entre os seus braços para o confortável leito de sua cama, para que sua esposa sentisse a completude de seu amor, de seu carinho, e de seu enorme desejo.

Na manhã seguinte, o apaixonado marido acordou com a imensa vontade de amar sua esposa por entre os seus braços, mas a bela jovem havia desaparecido. Então, completamente desesperado com lágrimas nos olhos ele pulou de sua cama e partiu em busca de sua amada por entre os corredores do castelo, até que ele chegou a sala do palácio real.

Ali, ele encontrou sua mulher. Contudo, percebeu, tristemente, que sua esposa havia trocado o calor dos seus braços pelo luxo e pelo alegre e triste egoísmo de barganhar, com o senhor Mercenas, o mercenário da região, as joias e os mais variáveis acessórios luxuosos que combinassem com seus lindos vestidos.
Naquele momento, o jovem príncipe se sentira totalmente rejeitado e percebera a total falta de sentimentalidade de sua esposa. E, assim ele andara tristemente de volta para o seus aposentos com a triste e cruel certeza de que sua esposa não o amava.

Consequentemente, para esquecer suas mágoas, e a triste dor que habitava em seus olhos, o príncipe decidira se embriagar com o vinho. Dessa forma, ele tomara para si uma das garrafas da sala de jantar real e partira novamente para o seu aposento real.

Muitas horas depois, quando Cinderella voltou para o quarto e encontrou seu marido completamente embriagado e adormecido pela garrava de vinho que ele ainda segurava em sua mão. Ela sentira uma certa repugnância e partira em direção a varanda.

Ali, enquanto, ela apreciava o lindo colar que estava em seu belo pescoço, ela comtemplara também o lindo horizonte e o enorme penhasco que envolvia o quadro de sua paisagem, até que de repente um enorme barulho chegou ao seus ouvidos.

Não houve tempo, era o seu fim. Quando ela olhou para trás ela se deparou com uma enorme estaca de madeira. Era o Marceneiro Camponês que a segurava para que ela pagasse com a sua vida e com o sangue a dor de todo o mal que ela havia feito.

Ela pensara em rogar arrependimentos para aquele camponês, mas já era tarde. Então, ela chorara desesperadamente, enquanto a estaca de madeira se aproximava de seu peito, até que repentinamente seu marido apareceu. Ele saíra correndo, arrancara à estaca, agarrara o malvado Marceneiro camponês e para que o pior não acontece com sua amada esposa. Em um ato heroico ele se jogara da varanda com o Marceneiro camponês no frio e profundo penhasco do castelo.

Naquele momento, Cinderella percebera o real valor dos sentimentos de seu marido. Então, completamente envolvida pelo arrependimento, pelas lágrimas e pela dor de todas as suas ações passadas, em um gesto de amor, de carinho e de arrependimento pelo seu tão amado esposo ela enfiara com toda a força a estaca do Marceneiro camponês em seu peito, para que dessa forma o seu coração jamais voltasse a se enganar com o luxo, com o dinheiro, com o egoísmo e com a vaidade humana.


Escrito por: Denise Mendes

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